domingo, 14 de junho de 2015

Seca. Canindé cogita buscar água em Caucaia

A água viria do açude Sítios Novos e percorria 160 km de estrada. Atualmente, a terra das romarias de São Francisco é abastecida por adutora vinda de General Sampaio.

Canindé já não tem de onde tirar água. No próprio território, as reservas morreram. Da parede do açude São Mateus, construído pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) em 1957, de onde deveria se avistar um espelho d’água, o que há é mato seco. Fica ao lado da colina onde está a imagem gigante de São Francisco. Cheio, teria 10,3 milhões de m³ de água. A última chuva nele, insignificante, foi na primeira quinzena de abril. O porão do açude, que é o que também se chama de fundo do poço, virou um grande poeiral.

No monitoramento feito pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o São Mateus é um dos que apresentam volume zero no Ceará. Os outros dois reservatórios da sede do município, o Souza (capacidade de 30 milhões de m³, com 0,06% atualmente) e o Salão (recebe até 6 milhões de m³, hoje tem 0,99%), estão em situação idêntica. Há seis meses, a escala do racionamento de água nos bairros é de dois dias de fornecimento e cinco dias de torneiras vazias. Canindé tem 77 mil habitantes e chega a ter 2 milhões de visitantes em outubro, época de romaria.

“Hoje já se especula buscar água em Caucaia, tamanha é a situação de desabastecimento por aqui”, admite o secretário da Agricultura de Canindé, Airton Maciel. A água vinda de Caucaia seria colhida do açude Sítios Novos, hoje com 3,8% da capacidade (4,7 milhões de m³), “mas Caucaia também não quer ceder, eles também estão precisando”, explica o secretário, provavelmente por pipas, por 160 km de estrada. A proposta ainda é muito incipiente.

Sem água
Para a sede canindeense, o fornecimento atual para consumo humano é garantido, desde dezembro do ano passado, pelo açude General Sampaio. Por enquanto. A água é transferida por uma adutora de 30 km, mas o reservatório, que tem o mesmo nome da cidade vizinha, está sobrecarregado. Além de General Sampaio (7 mil) e Canindé (77 mil), também está salvando as populações de Apuiarés (14 mil) e Caridade (21 mil). Dos 322 milhões de m³ de capacidade, está com somente 3,8% de volume. E a tendência é o cenário piorar. “Estão dizendo na Cogerh que a água lá só dá até dezembro”, informa Airton Maciel.

Na Operação Pipa, que abastece as zonas rurais de Canindé, há 28 caminhões tanques distribuindo até 2.400 carradas de água por mês para 10 distritos. A água é retirada de três reservatórios, muito pequenos, da região, segundo o secretário: os açudes São Luís, “já quase seco”; o Cabral, “com menos de 30%, dá para mais algum tempo”; e o Groaíras, “com 35%”.

Maciel diz que é cogitado até buscar água em barragens ainda menores existentes nos serrotes de Canindé, mas o acesso para os caminhões é difícil. Segundo ele, já há escolas da sede e de alguns distritos com funcionamento comprometido por causa dos pipas. “Olhe, se não chover em 2016, por Canindé viver do comércio e do turismo religioso, será um caos em todos os sentidos”, projeta o secretário municipal da Agricultura. (Cláudio Ribeiro e Demitri Túlio)

NÚMEROS

5
dias da semana não há fornecimento de água para bairros de Canindé, desde dezembro de 2014

28
carros-pipa abastecem a zona rural de Canindé

2.400
viagens por mês estão sendo feitas pelos carros-pipa na região de Canindé

o povo

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