O Ceará enfrenta um período de seca por seis anos, e a previsão da
Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme) é de que há chances de mais
um ano com chuvas reduzidas. Uma das esperanças da população mais
afetada com a falta de água é de que a transposição do Rio São Francisco
possa amenizar essa situação crítica. Enquanto isso, na Grande
Fortaleza, a meta é economizar.
O nível de armazenamento de água do maior açude do Ceará é
preocupante. Atualmente, a barragem do Castanhão, na região do
Jaguaribe, tem somente 6% da capacidade.
O estado tem 155 açudes monitorados pelo Governo do Estado e a
reserva hídrica atual não chega a 14%. Essa água é essencial para
abastecimento humano e também para geração de emprego na agricultura, na
pecuária e também na indústria.
A situação é crítica principalmente diante das incertezas sobre as
chuvas do próximo ano, concentrada de fevereiro a maio. A quadra chuvosa
do Ceará ficou acima da média somente uma vez nos últimos dez anos: em
2009. Segundo a Funceme, foram 5 anos seguidos de quadras chuvosas
abaixo da média: em 2010 e de 2012 a 2016.
Esse histórico de secas recentes teve causou impactos significativos.
No fim da década passada, o Castanhão ficou praticamente cheio. Depois
desses dez anos de poucas chuvas, a barragem atingiu o chamado volume
morto. Para 2019, fica a pergunta: como deve ser a quadra chuvosa? A
explicação está na ocorrência de um desses dois fenômenos: El Niño e La
Niña, que atuam no Oceano Pacífico.
“Caso esse fenômeno perdure até a estação chuvosa, março, abril e
maio, existe uma forte relação de que em anos de El Niño existe a maior
possibilidade de redução de chuvas no estado e em anos de La Niña existe
a maior possibilidade de aumento de chuvas no estado. Atualmente a
gente está com uma neutralidade no Oceano Pacífico, entretanto, existe
uma previsão de que no final do ano nós deveremos ter El Niño atuando”,
explicou David Ferran, meteorologista da Funceme.
Segundo previsão da Funceme, existem 67% de chances de acontecer o El
Niño, 30% de ter neutralidade no Oceano Pacífico e 3% de chance de ser
um La Niña no fim do ano.
“Essas temperaturas do Oceano Atlântico tropical só se definem mais
pra janeiro, quando a gente vai ter um melhor suporte para fazer
previsão. E entrará ou não a previsão do El Niño. A partir daí a Funceme
faz a previsão climática para quadra chuvosa de 2019”, esclareceu David
Ferran.
Para o engenheiro civil Hypérides Macêdo, a escassez de água é um problema que se reflete na produção econômica do estado.
“O elemento mais grave é a produção agropecuária, a irrigação que é
uma fonte consumidora de água e, em face dessa crise climática, nós
tivemos muita interrupção de programas, de projetos de irrigação por
força da escassez. O abastecimento ele se resume a 15%. O Ceará tem água
pra abastecer as pessoas. o ceará precisa é de organizar a gestão para
desenvolver sua produção”, avaliou o especialista.
Faz três anos que a tarifa de contingência na conta de água tem
levado os moradores da Grande Fortaleza a ter mais atenção ao consumo.
Rosânia armazena a água que sai da máquina de lavar para utilizar na
faxina de casa. E pela internet ela descobriu alguns truques que adotou
na hora de economizar.
“Coloquei aparelho acoplado e, hoje em dia, uso sempre duas garrafas
d’água dentro. Toda torneira, hoje em dia, tem arejador… Pra diminuir
mais ainda a vazão da água, eu uso um botão”, disse a dona de casa.
Desde a implementação da tarifa de contingência até julho deste ano,
34 milhões e 300 mil metros cúbicos foram economizados, o suficiente
para abastecer Fortaleza e Região Metropolitana por quase dois meses. De
acordo com a Cagece, ainda assim, a tarifa continuará ativa enquanto
durar um decreto que declara como crítica a situação de escassez hídrica
no estado.
Uma das soluções apontadas para resolver essa questão é a
transposição do Rio São Francisco. As obras estão avançadas em mais de
96%. As águas devem chegar ao estado até o fim de 2018. Apesar da
expectativa da população em torno do projeto, essa água não vai ser
gratuita.
No eixo leste do projeto São Francisco, que leva água para Pernambuco
e Paraíba, há uma taxa de R$ 0,80 por metro cúbico. Há outra tarifa de
R$ 0,24 por metro cúbico que é cobrada às operadoras estaduais para
cobrir custos de operação e manutenção. Uma conta que também deve ser
aplicada no eixo norte, que vai abastecer o Ceará.
Para agricultores como Josué dos Santos, estas águas significam
esperança. “Eu creio que quando a água vier, tudo vai mudar. Devido aos
plantios, vai aparecer mais emprego; e o clima vai ficar muito melhor”.
http://tribunadoceara.uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário