Além das restrições já estabelecidas ao paciente com insuficiência renal crônica, outros cuidados são necessários em função da pandemia da Covid-19. O grupo está entre aqueles com maiores riscos ao contrair a doença. De acordo com a Secretária da Saúde do Estado (Sesa), em média, 4.863 pessoas passam por procedimentos do tipo todos os meses no Ceará. Interromper a diálise pode levar à morte. Por isso, os esforços contínuos para garantir a segurança nas intervenções Desde a saída ao hospital à sala da hemofiltração.
Pelo menos três vezes na semana, Joana Paula, 34, sai de Pacatuba, no carro da prefeitura do município, para realizar a hemodiálise no Instituto de Nefrologia do Ceará (Inece), em Fortaleza. Se a rotina da paciente mudou há dois anos, quando iniciou o tratamento, desde a confirmação dos primeiros casos em território cearense da Covid-19, o dia a dia da paciente precisou de outra atualização.
“Meus cuidados foram redobrados. Principalmente com minha higiene. Eu sempre lavo minhas mãos. Não toco mais tanto meu rosto”, comenta sobre as atitudes básicas tomadas. No entanto, outras medidas mais drásticas foram adotadas. Conforme Paula, por enquanto, estão suspensas as visitas em casa. Até mesmo os parentes estão distantes do domicílio.
Sem trabalho, a paciente sobrevive com auxílio-doença recebido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A insuficiência renal é hereditária, conforme a beneficiária. “Às vezes, meu rim para sem motivo. Então, fica tudo inchado. Eu sinto febre, calafrio. Quando isso acontece, minha urina também para. Na última vez, eu fui direto pro hospital”, comenta. Segundo ela, outras pessoas da família passam pelo mesmo problema. Um deles é o irmão de 30 anos, que também está confinado em casa e sem receber visitas.
Familiar de uma idosa de 74 anos, que passa pelo mesmo tratamento de Joana Paula, que pediu para não ser identificada, destaca que a ente é atendida três vezes por semana no Instituto do Rim, em Fortaleza, para a hemodiálise. “Eles mudaram os horários dos funcionários. Os enfermeiros, médicos e profissionais de apoio estão dobrando os turnos. Trabalham 12 horas e folgam 36”, detalha. Além disso, é notória a mudança com a ocupação dos espaços. Acompanhantes tiveram os espaços disponíveis reduzidos.
A mãe da fonte, além de passar por hemodiálise, ainda enfrenta a quimioterapia pelo menos uma vez na semana. Para tantos dias fora de casa, a família precisou lançar mão de recursos a fim de garantir o tratamento da idosa. “Não pode parar. Nós temos contratado ambulância para deixá-la, porque ela fica tonta e, às vezes, desmaia. Não pode deixar de sair para fazer os procedimentos.”
Em casa, os cuidados também foram redobrados. As visitas suspensas. O contato é com apenas com duas filhas. Além das essenciais máscaras e do álcool em gel, as parentes da idosa passam água sanitária diluída em água no chão e banheiros, e álcool em todas as superfícies.
De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), há dez unidades de saúde, entre equipamentos da rede pública e conveniada, atendendo de forma regular os 1.722 usuários cadastrados, atualmente, para esse tipo de atendimento em Fortaleza. “A SMS reforça ainda que todos os prestadores de serviço estão adotando medidas de segurança necessárias, com base nas recomendações do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Nefrologia”, ressaltou em nota.
Especialistas indicam distanciamento e menos tempo de espera para atendimento
Nefrologista da Santa Casa de Misericórdia, no município de Sobral, distante 234,8 quilômetros de Fortaleza, Cristiano Araújo Costa reforça a necessidade de afastar pacientes e acompanhantes uns dos outros. O especialista também frisa a necessidade de higienização dos veículos de transporte dos pacientes.
Apesar do crescimento do número de casos confirmados com o novo coronavírus no Ceará, Araújo elogia a estrutura da região norte do Ceará para enfrentar a pandemia e, mesmo assim, manter o tratamento dos pacientes.
“Quanto à refeição, é evitado a aglomeração em copas e permitido, temporariamente, um lanche no interior da sala de hemodiálise”, pontua sobre as medidas adotadas nas dependências dos hospitais. Na clínica, segundo ele, existe o cuidado para evitar que os acompanhantes permaneçam, ficando apenas em casos específicos.
Nádia Guimarães, médica nefrologista da DaVita Tratamento Renal, frisa a necessidade de intensificar os cuidados, já que os paciente renal crônico é do grupo de risco. Principalmente, porque os indivíduos, em sua maioria, são idosos. “Mesmo em época da Covid-19, eles são orientados a não faltar ao tratamento. Isso também ajuda, caso algum deles seja infectado pelo vírus, que tenha um diagnóstico mais precoce.”
“Toda vez que o paciente sai de casa, ela tem de ter muito cuidado. Ao entrar em qualquer lugar, evitar proximidade com as pessoas, manter distância de 1 metro. Não cumprimentar”, reforça. A médica sugere ainda que, nos hospitais, é essencial evitar muito tempo de espera para o atendimento e manter as máquinas distantes uma das outras.
“Como eles vão às clínicas três vezes por semana, são bem vistos. Os profissionais aferem as condições. Com isso, o paciente que chegar e for identificado com qualquer sintoma parecido com os da Covid-19, são considerados suspeitos. Passam por uma consulta separado. A própria diálise é feita separadamente. Caso a situação piore, o indivíduo é encaminhado para uma hospitalização”, detalha Nádia.
O POVO
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