A
força da água varreu toda a avenida Litorânea na praia do Icaraí e
voltou arrastando areia e pedras, cavando a sustentação de retaguarda do
muro. É o que explica Marco Lyra, especialista em obras de defesa
costeira e consultor independente da Prefeitura de Caucaia. Ele
acrescenta que o alerta de ressaca chegou um pouco antes das ondas de
quase cinco metros rebentarem sobre o muro.
É a segunda vez, em um ano, que desaba parte do muro de contenção do
mar da Praia do Icaraí, localizada em Caucaia, na Região Metropolitana
de Fortaleza. Dos 1.420 metros do muro, 50 metros tombaram na
sexta-feira, dia 1º. A população questiona a qualidade da obra, mas a
Prefeitura de Caucaia informa que os desabamentos do ano passado e de
agora, apesar de terem ocorrido na mesma época, tiveram causas
distintas.
Recursos públicos de R$ 2,5 milhões estão
reservados para os reparos e a urbanização da orla do Icaraí, o que
ainda não tem data para acontecer, no entanto.
Com o
incidente, que já tinha sido registrado em março de 2012, quem trabalha
na região começa a duvidar que o muro de contenção seja solução para o
avanço do mar. “A força da natureza parece ser muito pesada para essa
obra. De novo, não aguentou a rebentação do mar”, avalia a dona de
barraca Rosa Braz, 45. “Se esse modelo de contenção deu certo em algum
lugar é porque lá não tinha um mar como esse do Icaraí”, atesta o
comerciante Idelmir Arrais, 49. Há nove anos trabalhando na Praia do
Icaraí, ele diz nunca ter visto o mar avançar tanto como na madrugada da
última sexta-feira, quando a água chegou até as barracas.
A
força da água varreu toda a avenida Litorânea e voltou arrastando areia e
pedras, cavando a sustentação de retaguarda do muro, que desabou. É o
que explica Marco Lyra, especialista em obras de defesa costeira e
consultor independente da Prefeitura de Caucaia. Ele acrescenta que o
alerta de ressaca chegou um pouco antes das ondas de quase cinco metros
rebentarem sobre o muro.
“Foi uma onda de energia que veio do
Mar do Norte (no Oceano Atlântico, próximo à Noruega) e teve reflexo nas
costas litorâneas do Maranhão ao Rio Grande do Norte. As ondas variaram
de 2,5 metros a 3 metros mais a amplitude marítima (nível do mar) que
incidiu aqui em 2,7 metros”, explica Lyra. A altitude alcançada pelo mar
foi, portanto, superior ao muro.
Relatório
De
acordo com o vice-prefeito de Caucaia, Paulo Guerra, o muro não contém
ondas nem de três metros, porque assim impediria o acesso à praia quando
a maré estiver baixa. “A altura é suficiente para que os banhistas
cheguem à praia. Esse foi um fenômeno que não podia ser previsto”,
argumenta. A imprevisibilidade de uma ressaca também é o argumento usado
para justificar por que a Prefeitura - e não a construtora - arcará com
os reparos. “Fizemos um relatório, com base em monitoramento da área, e
constatamos que a área do desabamento é vulnerável por não ter recifes
que funcionem como barreiras naturais da força do mar. Esse fenômeno
atípico teve suas causas agravadas nesse trecho que acabou desabando”,
diz.
Ainda segundo o relatório municipal, para sanar de vez o
problema, será necessário impermeabilizar todo o trecho, construir uma
“minidrenagem” e urbanizar todo a área da avenida Litorânea. “Já temos
R$ 2,5 milhões em emendas parlamentares e em contrapartida da Prefeitura
de Caucaia para atender à recomendação técnica da engenharia”, garante
Paulo Guerra. A data para começar as obras, no entanto, ainda não foi
estabelecida. “Esperamos o tempo burocrático das licitações para isso”.
ENTENDA A NOTÍCIA
A
Praia do Icaraí era uma das praias mais frequentadas do Litoral Leste
do Estado, mas o avanço contínuo do mar, nos últimos anos, mudou o
cenário. O muro de contenção e a ainda aguardada urbanização da orla
são a esperança de quem vive no lugar para “ressuscitá-lo”.
Serviço
Defesa Civil de Caucaia
Telefone: (85) 3342 8145
Saiba mais
O
muro de contenção do mar da Praia do Icaraí começou a ser construído
em agosto de 2010 e foi concluído em 90 dias. A obra custou R$ 8
milhões, dos quais boa parte foi contrapartida do Governo Federal.
Em
março de 2012, no entanto, quase 100 metros do muro desabaram. À
época, a Prefeitura de Caucaia informou que o tombamento teve causa na
“erosão frontal” ocasionada pelo mar.
“Os reparos foram
feitos pela construtora responsável pela obra, sem custos aos cofres
públicos, porque ainda estava na garantia, e este era um fenômeno que
deveria ter sido previsto”, informa o vice-prefeito de Caucaia, Paulo
Guerra.
A Prefeitura de Caucaia acrescenta ainda que vai isolar o trecho do desabamento para evitar acidentes.
op
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