Eis artigo do jornalista Magela lima, no O POVO desta segunda-feira. Com o título “Meu coração é um ônibus verde e amarelo”, ele lamenta a saída do trânsito da Empresa São José de Ribamar, que era a melhor empresa do ramo em Fortaleza. Confira:
Fortaleza é uma cidade faminta. Tem fome de mudança constante. Aqui, o prazo de validade de tudo é mais acelerado. As coisas ficam velhas muito rápido. Nada perdura. E a gente se acostumou a viver entre novidades. É fato: nunca tivemos o tempo como bússola. Tanto faz, tanto fez, se algo que existia se acabe. A vida continua. Assim, Fortaleza toca seu barco. Nesse quesito, eu e a cidade batemos de frente. Por natureza, sou um sujeito apegado a tudo.
Esses dias, tenho sofrido de imaginar que possa haver vida em Fortaleza sem os ônibus da São José de Ribamar. Desde o último dia 3, a empresa está impossibilitada de atender as 17 linhas que cobria porque perdeu a licitação para explorar o setor de transporte público. Foram45 anos de serviços prestados! Entendo perfeitamente que a administração pública tenha processos e procedimentos a cumprir, sei que a São José de Ribamar foi negligente com isso, mas o afeto é irresponsável por excelência.
A Fortaleza que eu gosto tem ônibuzinhos verde-amarelo ligando o Centro da Cidade à Rodoviária. Não se trata nem do percurso, nem da qualidade do serviço que era oferecido. Não, não é isso. Outras empresas podem fazer o mesmo e melhor, sem dúvida. A mim, o que faz falta é que Fortaleza reivindique o direito de manter sua paisagem urbana. Os ônibus tradicionais da São José de Ribamar, despadronizados aos olhos de hoje, são como o 511 e o 512 cariocas.
Quem já viveu o Rio de Janeiro sabe bem que é possível cruzar da Urca ao Leblon de mil maneiras. No entanto, os ônibuzinhos marrom com azul transformam esse trajeto de forma especial. Meu sonho era que Fortaleza fosse mais ciosa de si. Eu, por mim, a Prefeitura compraria a velha frota da São José de Ribamar e a deixava perambular pelas ruas. Talvez, até de graça. Em algum momento, Fortaleza precisa aprender que não há futuro possível sem passado.
Afinal, onde estão mesmo os vestígios dos bondes que um dia tivemos?
Magela Lima
magela@opovo.com.br
Editor Executivo do Núcleo de Cultura e Entretenimento do O POVO.
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