Prestes a assumir a Presidência do Tribunal de
Justiça do Ceará, o desembargador Washington Araújo tem um norte para
seu mandato: aumentar a produtividade e acelerar os julgamentos. "O que o
cidadão quer é o processo julgado", sentencia.
O desembargador, atual vice-presidente, assume o cargo no próximo dia
31 e já tem os detalhes da estratégia para atingir as metas. Ele quer
concluir a digitalização dos processos, criar um comitê permanente de
apoio à produtividade dos magistrados e, ao reconhecer como insuficiente
o seu corpo técnico, contratar 300 profissionais para atuarem nos
julgamentos.
Ele reforça que o TJCE tem feito um grande esforço de austeridade,
mas avisa: vai conversar com o governador Camilo Santana para tentar
reforçar o caixa do Judiciário.
Quais os principais desafios do Judiciário no Ceará?
Desde o momento que soube que seria presidente, eu tive certeza de
que deveria focar na produtividade, na celeridade dos julgamentos. O que
o cidadão quer é o seu processo julgado. Temos uma oportunidade ímpar,
porque o presidente atual tem feito um grande trabalho. Quando nós fomos
eleitos (ele é vice-presidente, atualmente) há pouco mais de dois anos,
nós percorremos todo o Tribunal e ficamos estarrecidos. Tínhamos uma
Secretaria geral que cuidava tanto da parte judicial quanto da parte
administrativa, e não tinha estrutura para nada. Era uma coisa muito
amadora. Gladyson (Pontes, atual presidente do TJCE) concebeu um plano,
dividiu essa Secretaria geral em duas competências: uma Superintendência
para administração e outra para a área judicial. E hoje nós temos uma
estrutura profissionalizada.
Essas mudanças exigem um plano desenvolvido. Quais os principais pilares da nova gestão?
Tem projetos que são estruturantes. Por exemplo: o Gladyson começou a
virtua-lização dos processos. Nós vamos concluir. Nós vamos criar uma
Secretaria Judiciária de primeiro grau, concentrando todo o trabalho
cartorário das unidades e das comarcas. Isso permite grande escala, os
servidores serão mais produtivos. E algo que é absolutamente inédito é
um comitê de apoio permanente à produtividade dos magistrados. Nós vamos
recrutar 200 estagiários de pós-graduação, o edital deve ser divulgado
já na próxima semana, e vamos criar um núcleo vinculado à Presidência,
nele teremos um juiz auxiliar, um juiz coordenador do primeiro grau, o
secretário judiciário e o de administração. E esse corpo de estagiários
de pós-graduação é uma força de trabalho extra.
O diagnóstico que eu fiz é que nossa força de trabalho é
insuficiente. Temos muitas demandas, um estoque de processo muito grande
e precisamos de uma força de trabalho extra se quisermos resolver. Esse
Núcleo vai atuar remotamente. E a ideia é concentrarmos os esforços nas
unidades, nas varas com mais acúmulo de trabalho. De modo a que,
rapidamente, a gente julgue os processos.
Vamos recrutar também 100 juízes leigos que serão remunerados por ato
e vão ajudar a produtividade dos juizados especiais e das turmas
recursais. Lá tem um acúmulo de processos muito grande (cerca de 20 mil
processos) e nós temos que resolver.
Sobre os juízes leigos, como funciona o programa?
O juiz leigo é um bacharel em direito, geralmente jovens que estão
estudando para concurso. Eles serão recrutados e os 100 melhores vão ser
formados pela Escola Superior da Magistratura (Esmec) para, então,
auxiliar os juízes dos juizados especiais e recursais. E vão ser
remunerados por ato. Esse projeto já havia, mas era voluntariado.
Temos um problema de força de trabalho, mas aquela ideia de que o
Judiciário cearense é pouco produtivo não é verdadeira. Aqui se julga
tanto quanto nos demais estados. É porque as estatísticas do CNJ
consideram a baixa processual, e não o julgamento. Então se julgarmos
muito, e não dermos baixa, a nossa produtividade não aparece.
As mudanças exigem estrutura financeira. Como estão as finanças do TJ?
O nosso orçamento é sempre inferior ao que foi executado nos anos
anteriores. Meu orçamento para 2019 é menor do que o de 2018. Era para
ser o contrário. Esse é um assunto que se pretende conversar com o
Executivo (com o governador Camilo Santana) para resolver, porque todos
os anos nós vamos atrás de suplementação. O nosso orçamento é de R$ 1,2
bilhão.
Aqui, a austeridade é absoluta. Na gestão do desembargador Gladyson,
tínhamos que cumprir a resolução 219 (do Conselho Nacional de Justiça),
que mandava deslocar boa parte dos recursos do segundo para o primeiro
grau, onde tinha maior quantidade de processos. Nós criamos 344 cargos
no primeiro grau sem um centavo de acréscimo de despesa. Extinguimos
vários cargos aqui no Tribunal, reduzimos as gratificações de todos os
cargos. Tínhamos gabinetes com oito servidores. Hoje temos três
assessores e mais 2, os outros foram mandados para o primeiro grau.
O Judiciário participa da solução para o problema da crise de segurança?
Sim. A interlocução com o Executivo tem sido constante. O Judiciário
tem feito sua parte. Agora mesmo adaptamos todos os nossos fóruns para
videoconferência. Os presos foram tirados das cadeias públicas e levados
para um presidio. Nossa parte está feita, mas tem que cuidar da outra
ponta. Os presídios têm que ser todos equipados, o TJCE custeou a
implantação de equipamentos em alguns presídios.
diario do nordeste
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