O sistema penitenciário cearense passa por mudanças drásticas em 
2019, como a desativação de cadeias públicas no interior e a 
transferência de líderes de organizações criminosas para presídios 
federais. Mas, uma característica que ainda se mantém é a organização de
 presos, nas unidades, por facções criminosas.
O Sistema Verdes Mares conseguiu informações sobre o destino de 2.544
 detentos, que estavam custodiados em 48 cadeias públicas e foram 
transferidos para grandes presídios do Estado. Os recambiamentos 
respeitaram a identificação dos internos com os grupos criminosos, se 
opondo à declaração do titular da Secretaria da Administração 
Penitenciária (SAP), Luís Mauro Albuquerque, logo no primeiro dia à 
frente da Pasta, de que não reconhecia facções nem a separação destas 
por unidades prisionais.
Os 119 presos que estavam na Cadeia Pública de Acaraú, que era 
dominada pelo Comando Vermelho (CV), foram transferidos para a Unidade 
Prisional Agente Luciano Andrade Lima (antiga CPPL I), em Itaitinga, que
 também concentra internos ligados à facção carioca.
Outro exemplo são os 50 internos da unidade de Morada Nova, onde 
havia predomínio dos Guardiões do Estado (GDE), que foram realocados no 
Instituto Penal Professor Olavo Oliveira (IPPOO II), também em 
Itaitinga, onde há prevalência da organização criminosa originada no 
Ceará.
Em cadeias consideradas mistas - com presos de grupos diversos e 
massa carcerária (internos sem facção) -, os internos foram distribuídos
 para mais de uma unidade, como é o caso do equipamento de Iguatu.
A lista também mostra que alguns detentos estavam em cadeias públicas
 dominadas por facções rivais, correndo risco de morte, como no 
Município de Jaguaribe, e tiveram que ser transferidos para presídios 
distintos dos antigos "companheiros".
Alguns prédios do sistema penitenciário espalhados pelo interior 
apresentavam uma divisão das organizações criminosas por celas. Em um 
dos equipamentos, situado na cidade de Itapajé, uma rebelião terminou 
com a morte de 10 internos, em uma batalha armada entre internos do CV e
 GDE, no dia 29 de janeiro do ano passado.
A presidente do Conselho Penitenciário no Ceará (Copen), advogada 
Ruth Leite Vieira, confirma que a SAP não colocou em prática, pelo menos
 até o momento, o plano de misturar criminosos ligados a facções 
diferentes, dentro da mesma unidade.
"Os presos ainda são separados por facção, segundo o que eles se 
autodenominam. O secretário também declarou que não iria colocar os 
presos para se digladiarem. Parece que uma fala teve mais peso que a 
outra. Está em um processo de seleção, vai depender muito do 
comportamento dos presos", analisa.
Superlotação
A desativação das cadeias públicas abarrotou os grandes presídios do 
Estado, que já estavam superlotados. Os 2.544 presos foram realocados em
 apenas seis unidades, sendo que uma delas, o IPPOO II, já estava com 
120% de excedente populacional, conforme o último boletim da SAP, de 
dezembro de 2018.
Apesar das mudanças promovidas no sistema penitenciário, não há 
registro de tumultos desde um motim ocorrido na Casa de Privação 
Provisória de Liberdade Professor José Jucá Neto (CPPL III), em 
Itaitinga, no dia 3 de janeiro.
A SAP não respondeu sobre a separação de presos por facções, mas 
garantiu que 84 cadeias públicas já foram desativadas no Estado nas 
últimas semanas. Outras estão sendo avaliadas e ainda poderão ser 
desativadas. A medida, segundo a SAP, tem por objetivo reforçar a 
segurança de agentes, internos e da população que mora no entorno dos 
estabelecimentos prisionais. 
diario do nordeste

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