domingo, 8 de janeiro de 2012

Dez policiais expulsos em 1997 retornaram à PM

Enquanto o presidente de honra do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, discursava na Concha Acústica da UFC, no dia 3 de outubro de 1997, agentes da Inteligência da 2ª Seção do Comando Geral da Polícia Militar, infiltrados entre populares com máquinas fotográficas, acompanhavam o ato político. O interesse não era Lula, então candidato a presidente do Brasil. Eram dois sargentos e um soldado da PM, contratados por José Guimarães (hoje deputado federal/PT) para fazer a segurança de Lula da Silva enquanto ele estivesse em Fortaleza.

Os sargentos Josué Pereira de Sousa e Marcos Aurélio da Silva, além do soldado José Tupinambá Fernandes, que trabalhavam à paisana, estavam prestes a ser expulso dos quadros da PM . Haviam sido apontados como líderes da primeira greve da PM cearense, ocorrida nos dias 29 e 30 de julho daquele ano (1997), e respondiam em liberdade um Conselho de Disciplina. “Era mais uma forma de agravar nossa situação no processo e nos tachar de subversivos”, recorda Josué Pereira, 49.

Os três militares, “já quase desempregados” e com apenas 40% dos vencimentos, haviam sido presos disciplinarmente e, depois de soltos, afastados dos quartéis onde trabalhavam. Além da punição, o então secretário da Segurança Pública do Ceará, general Cândido Vargas Freire, mandou recolher dos “amotinados” o armamento, a carteira funcional e a farda.

Cinco meses após a greve, sufocada pelo então governador Tasso Jereissati (PSDB) e o tiroteio que baleou o coronel Mauro Benevides, os três seguranças de Lula e mais dez praças (um cabo, oito soldados e uma policial feminina) eram expulsos oficialmente da PM por quebra de hierarquia e disciplina.

Anistia

Dos 13 policiais militares excluídos, de acordo com documentos do arquivo pessoal de Josué de Sousa, dez foram reintegrados a partir de 2009 e até o ano passado. Quem participou da greve foi anistiado pela Lei Federal nº 12.191, de 13 de janeiro de 2010. Quinze anos depois, por força de uma decisão judicial, retornaram à PM na mesma patente da época da exclusão.

Josué de Sousa, graduado em Filosofia pela Uece, é um dos três que ainda não voltou a vestir farda. Após prestar concurso para professor, foi eleito e está no segundo mandato de diretor da Escola Estadual Virgílio Távora (Messejana). “Estou esperando que o Estado reconheça a anistia e o processo de reintegração transite em julgado. Teremos direito à promoção, salários atrasados e a dignidade refeita”, explica.

O hoje advogado Marcos Aurélio, 45, formado pela Unifor, foi vigilante e estagiário de escritório de advocacia. É um dos que retornaram à PM. Em maio deste ano, completa 30 de polícia e vai pedir a reservar. “Voltarei ao escritório”. Já o soldado Tupinambá, aos 51 anos, voltou à PM e está trabalhando da Companhia de Gurda do Presídio. Trabalhou de técnico de enfermagem e foi acadêmico de Gestão Empresarial.

O POVO procurou o ex-governador Tasso Jereissati. Até agora,
espera uma resposta de sua assessoria de imprensa.

Números

70
PMs que participaram da greve de 1997 foram punidos com prisões disciplinares. Muitos foram transferidos para quartéis do Interior do Ceará.

13
Militares da Polícia Militar cearense foram expulsos depois da greve dos dias 29 e 30 de julho de 1997. Três sargentos, um cabo, oito soldados e uma policial feminina.

98
Policiais civis responderam processos administrativos/1997. Raimundo Soares, então vice-presidente do Sinpoci, diz que ninguém foi demitido do serviço público por causa da greve.

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