Apenas com obras públicas consideradas essenciais em andamento, o setor cearense da construção civil, que teve suas atividades suspensas desde o primeiro decreto de isolamento social do Estado, no dia 19 de março, completará dois meses parado no próximo dia 20, data previsa para o fim do lockdown em Fortaleza. Sem qualquer previsão para uma possível retomada, o setor, que inicialmente deu férias de 30 dias para seus funcionários, já contabiliza demissões e teme até casos de falências se a crise continuar se estendendo.
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado (Sinduscon-CE), Patriolino Dias de Sousa, ainda não há um número exato de pessoas demitidas no setor, já que a entidade segue contabilizando os dados, mas os casos têm acontecido, principalmente, entre micros e pequenas empresas. "Muitas construtoras da faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida estão sofrendo, pois só recebem por medição. Infelizmente, elas não têm como manter os funcionários por muito tempo em um cenário assim", lamenta. Conforme diz, além da dificuldade de conseguir empréstimos com taxas menores, as empresas estão tendo que arcar com juros elevados, posto que, no momento, não conseguem cumprir os prazos de seus financiamentos. "Nosso temor é a possibilidade desses negócios falirem, gerando ainda mais desemprego".
 Na última sexta-feira, 8, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) apontou que 96,2% dos empresários da construção consideram que a pandemia impacta negativamente nos negócios. Conforme o levantamento, as empresas projetam que o impacto do coronavírus durará, em média, quatro meses, e que será preciso mais de 170 dias para uma recuperação após a crise. "O setor da construção e de serviços são intensivos em mão de obra, por isso as medidas restritivas de isolamento afetam de forma mais intensa ao paralisar grande parte das obras e prestação da maioria dos serviços não essenciais", destaca Viviane Seda, coordenadora das sondagens do FGV IBRE.
Para Patriolino Dias, no caso do Ceará, o que pesou contra o setor foi o fato de as atividades terem sido suspensas desdes o início do isolamento social, assim como ocorreu em Pernambuco. "São os únicos estados brasileiros que fizeram isso. Em muitos locais, mesmos com o lockdown, a construção civil continuou trabalhando", destaca. Conforme a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), atualmente todas as obras estão em andamento nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, mesma situação do Sul e Norte, com exceção do Paraná, em alguns locais, e do Pará, onde as atividades foram paralisadas. No Nordeste, Ceará, Maranhão e Pernambuco operam apenas obras públicas essenciais, enquanto o Piauí está com tudo parado.
Na semana passada, o Governo Federal publicou um decreto que classifica a construção civil como serviço essencial, o que não deve alterar a situação do setor no Ceará, já que, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), normas nacionais não se sobrepõem aos decretos de isolamento de estados e municípios. Na ocasião, o presidente da CBIC, José Carlos Martins, comemorou a medida, destacando que "muitos estados já reconheciam essa condição". Já o secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará, Maia Júnior, considerou a atitude não condizente com o atual momento, argumentando que as atividades essenciais da construção civil, ligadas à saúde e saneamento básico, foram liberadas no Estado.
Conforme o presidente do Sinduscon-CE, o desejo do setor é retomar as atividades de imediato, obedecendo todas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Patrolino reforça, inclusive, que a construção civil já apresentou um protocolo de combate à contaminação ao Estado, indicando as medidas que seriam adotadas nos canteiros, mas que ainda não obteve resposta. "A ideia é de, inicialmente, retomar canteiros de até 100 operários, inclusive fornecendo transporte particular para que os trabalhadores não utilizem o serviço público. Precisamos voltar para que mais empregos não sejam perdidos", finaliza.
O POVO
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