Viagens a Dubai, nos Emirados Árabes, e às Ilhas
Maldivas, festas, bebidas caras, compras de veículos, relógios e joias
de alto valor. Um servidor do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
no Ceará e a sua família levavam uma vida de luxo, com o dinheiro
obtido nas fraudes ao benefício previdenciário da aposentadoria rural
por idade.
O esquema criminoso, iniciado em 2014 e em vigor até ontem, foi
desarticulado com a deflagração da Operação Frenesi, pela Polícia
Federal (PF) com apoio da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho
do Ministério da Economia. A investigação identificou que, em cinco
anos, a quadrilha causou um rombo de, pelo menos, R$ 15 milhões aos
cofres públicos, mas esse valor poderia chegar a R$ 157 milhões - com o
cálculo da expectativa de vida dos 600 beneficiados pelo crédito.
"O trabalho iniciou a partir de denúncias que recebemos. Nossa equipe
de Inteligência fez alguns levantamentos relacionados aos indicadores
de comportamento de cada agência e percebemos que tinha algo díspare.
Denotamos a recorrência de uma mesma matrícula de servidor na concessão
desses benefícios. Elaboramos um relatório e foi encaminhado para a
Polícia Federal investigar", revelou o coordenador geral de Inteligência
Previdenciária e Trabalhista do Ministério da Economia, Marcelo Ávila.
As fraudes eram cometidas de uma agência do interior do Estado, sem a
presença do aposentado. "O servidor vinha alterando os endereços dos
beneficiados para o interior do Ceará, nos próprios sistemas do INSS.
Eram pessoas da Zona Metropolitana de Fortaleza, não eram trabalhadores
rurais", afirma o delegado federal Cid Saboia Soares. O nome do servidor
e o município onde ficava localizada a agência não foram revelados.
Em poucos minutos, o benefício era concedido. O ritmo da quadrilha
era frenético, o que inspirou o nome da Operação. O beneficiado recebia a
aposentadoria mensalmente e, em troca, fazia um empréstimo consignado
em um banco que ia diretamente para o servidor da Previdência Social. Na
maioria dos casos, o cartão do aposentado ficava na posse da
organização criminosa.
Presos
O servidor do INSS e o pai dele - que seria o mentor do esquema
criminoso - foram presos preventivamente, enquanto a irmã do funcionário
público foi presa temporariamente. Eles irão responder pelos crimes de
organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva,
estelionato majorado e inserção de dados falsos em sistemas corporativos
do Governo Federal
Foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão, em Fortaleza,
Maracanaú, Pacatuba, Redenção e Acarape. A 11ª Vara Federal determinou
ainda o sequestro de bens móveis e imóveis e o bloqueio de valores das
contas bancárias em nome dos suspeitos. Durante as diligências, foram
apreendidos R$ 333 mil em espécie, relógios e joias. Somados os bens
sequestrados ontem, a PF estipula um valor total de R$ 1 milhão. Mas
acredita que é pouco e tem muito mais em nome de 'laranjas' - inclusive
imóveis em São Paulo.
A Polícia Federal pretende chegar aos captadores dos interessados em
se aposentar com a fraude e aos 'laranjas' do esquema de lavagem de
dinheiro. Os 600 aposentados serão convocados a prestar esclarecimento e
podem responder pelos crimes de corrupção ativa e estelionato majorado.
DN
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