Trabalhos para retirada de água do Lagamar do Cauipe estão sendo retomados com apoio policial. Lideranças locais sinalizam novos confrontos
Por 350.org Brasil
Na manhã desta terça-feira, moradores de Caucaia, no Ceará, foram surpreendidos quando um grupo de operários, acompanhados por policiais, iniciaram movimentações para retomar os trabalhos de retirada de água da Área de Preservação Ambiental do Lagamar do Cauípe. “Funcionários da obra, acompanhados por policiais arrombaram a cerca sem falar com ninguém. Os sete policiais armados estão intimidando moradores e ameaçaram até mulheres, para que não os fotografassem ou filmassem”, relata um morador.
Membros de comunidades de Caucaia estão indo para o local. Segundo o cacique Roberto Anacé, o clima está tenso. “O povo Anacé da Barra do Cauipe está chegando para confronto. Os ânimos estão acirrados”, alerta. Segundo representante da comunidade local, os operários apresentaram um documento informando uma suposta decisão do desembargador Francisco Gladyson Pontes, do Tribunal de Justiça do Ceará. Datada de 12 de janeiro, a decisão teria derrubado a liminar da Justiça estadual que determinava a interrupção das obras, bem como outras atividades relacionadas à retirada de recursos hídricos da região do Lagamar do Cauípe e dos poços do Pecém.
A liminar foi resultado de uma Ação Popular, movida por lideranças Anacés, com apoio de movimentos populares e organizações, e de uma Ação Civil Pública – que visam garantir água para o povo. As obras em questão tem objetivo de retirar água da APA para abastecer o Complexo Industrial do Pecém, em especial uma termelétrica.
O advogado João Alfredo Telles Melo estranha o fato que tal decisão não consta na página eletrônica do processo da Ação Popular. “Estamos verificando isso, e caso confirmada a decisão, buscaremos recurso”. Uma reunião com advogados foi marcada para esta tarde para avaliar a estratégia de defesa. “O procedimento regular é que um oficial de justiça acompanhe esse tipo de intervenção para dar cumprimento a ordem judicial, o que não foi o caso”, complementa o advogado.
O local foi palco de inúmeros conflitos e manifestações nos últimos meses. Diversas famílias ocuparam o canteiro de obras para impedir os trabalhos. Numa das piores crises hídricas do estado, o governo está novamente defendendo que a água, para consumo prioritário da população, seja desviada para atender a interesses industriais. “Este é o governo do estado que vem para cima do povo mais humilde com seu poder de força e desrespeito total. Vamos todos ao Rio Cauípe no Coqueiro mostrar nossa indignação”, declaram lideranças locais.
“Numa das piores crises hídricas do estado, o governo está novamente defendendo que a água, para consumo prioritário da população, seja desviada para atender a interesses industriais e priorizar a geração de energia, por um dos meios mais caros e poluentes. Por todos seus impactos ambientais e sociais, a exemplo do que ocorre no Ceará, defendemos que termelétricas sejam banidas”, comenta Juliano Bueno de Araújo, coordenador nacional da 350.org Brasil e da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS).
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